Uma das melhores formas de aprender é com o auxílio de recursos audiovisuais, não é? Especialmente uma matéria tão complicada quanto Física…
E a série alemã Dark, original Netflix, muito mais do que uma história incrível, é uma produção repleta de conceitos da Física, que tem muito a contribuir para quem está na preparação para o ENEM e vestibulares — ou apenas quer entender melhor a trama e desenterrar as teorias conspiratórias, mesmo.
Confira, a seguir, os principais conceitos que identificamos e separamos!
Teoria da Relatividade de Einstein
A famosa Teoria da Relatividade Geral de Albert Einstein descreve espaço e tempo não como entidades separadas, mas como parte de uma única grande entidade, o espaço-tempo.
Assim, o universo não seria composto por lugares e, especialmente, tempos distintos, como passado, presente e futuro, mas tudo existiria nele simultaneamente. Na série, seria o que permitiria que uma mesma pessoa estivesse vivendo e agindo de maneiras diferentes em tempos diferentes.
Outro aspecto da teoria de Einstein apresentado na série é a ideia do buraco de minhoca ou Ponte de Einstein-Rosen, que afirma que não só é possível "dobrar" o espaço-tempo, mas que uma deformação radical seria capaz de criar uma "ponte" entre regiões distantes, tanto em espaço como em tempo. Seria por meio dela que os personagens "viajariam" de uma época a outra.
Terceira e Primeira Leis de Newton
A Terceira Lei de Newton, que diz que "para toda ação, surge uma reação de mesma intensidade, mesma direção e sentido oposto simultaneamente", talvez seja o conceito da Física mais evidente na série.
Ele se aplica não só para as ações dos tempos passados, que geram reações (muitas vezes vitais) nos futuros, mas também para os diferentes "mundos" da série, em que duas forças de mesma intensidade e direção, mas "sentidos" opostos, disputam o controle sobre Winden e o apocalipse: Adam e Eva.
Já a Primeira Lei, apesar de não ser abordada diretamente na série, pode ser verificada se pensarmos que muitos dos "corpos" permaneceriam em "inércia" caso outros "corpos" não exercessem "forças" sobre eles, tipo um certo protagonista, assim…
Paradoxo de bootstrap
Este conceito está bastante alinhado à Terceira Lei de Newton, de ação e reação, e a uma das frases mais repetidas na série, especialmente na terceira temporada: “O começo é o fim, e o fim é o começo”.
A grosso modo, o paradoxo refere-se a um ciclo infinito, em que não só a ação leva à reação, como esta é a “causadora” da ação inicial.
Os acontecimentos ficam ligados uns aos outros, e, portanto, condicionados a repetirem-se. Isso faz com que, em determinado momento, deixe-se de saber onde, como e pelas mãos de quem tudo começou.
Peguemos um exemplo óbvio, a personagem Charlotte:
- Ela é fruto do amor de Noah, um viajante do passado, com Elisabeth, uma moradora da Winden do futuro;
- Após o seu nascimento, é levada a seu “avô” Tannhaus no que seria o “presente”;
- Na vida adulta, constitui família com Peter e tem como filhas Franziska e Elisabeth;
- Esta última, por sua vez, cresce e, no futuro, apaixona-se por Noah, tornando-se a própria mãe de Charlotte.
Ou seja, é impossível definir um ponto exato de início, porque assim como Charlotte não pode nascer sem Elisabeth, esta não pode nascer sem sua mãe (que também é sua filha).
É a mesma lógica do velho dilema: quem veio primeiro, o ovo ou a galinha? Assim como essa pergunta não tem resposta exata, as demais aplicações do paradoxo também não têm, porque são cíclicas, e não lineares como a nossa concepção de tempo “normal”.
Emaranhamento quântico
Esse é um conceito da mecânica quântica que afirma que partículas subatômicas podem estar em mais de um local ao mesmo tempo, ou seja, é o que permite que um Jonas, uma Martha e tantos outros personagens existam simultaneamente em mundos diferentes (e em estados físicos diferentes, diga-se de passagem).
Na série, o cientista Tannhaus ilustra esse conceito com o experimento do Gato de Schrödinger: um gato preso em uma caixa é exposto à radioatividade; ele pode tanto ter contato com ela e morrer, como permanecer vivo, ou seja, são duas realidades possíveis coexistindo até que... alguém abra a caixa e veja! Assim, a resposta estaria na observação.
Isso basicamente significa que podem existir outros de nós a bilhões de anos-luz daqui, o único problema é que não temos como saber, porque não podemos observar...
Partícula de Deus
Em Dark, a partícula de Deus é a massa energética escura que surge dos portais e alimenta-os ao mesmo tempo, possibilitando as viagens dos personagens.
Na série, parece que a partícula se forma “do nada”, não é? Pois sua aplicação teórica e prática é precisamente esta.
Formalmente chamada de bóson de Higgs, ela é uma partícula subatômica que fornece massa a partículas elementares, ou seja, as menores frações de matéria que já existem. Resumindo, é capaz de criar matéria onde, em tese, ela não existe.
Mas e no vácuo, em que não há nenhuma partícula, nem mesmo elementar, como isso se aplica?
De fato, não há partículas, mas há energia, que flutua e oscila. E esta energia pode, mais cedo ou mais tarde, dar origem a uma ou mesmo uma infinidade de partículas.
Foi assim que o Big Bang aconteceu e o nosso próprio universo surgiu — e é daí também que vem a ideia de que podem existir infinitos universos além do nosso. Afinal, se ocorreu uma vez aqui, como podemos saber que não ocorreu outras vezes em outros lugares, e o que achamos ser “vazio” está, na verdade, bem “cheio”?
Por ser criado “do nada”, acredita-se que o bóson de Higgs pode dar origem a tudo. É por isso também que ele leva o título de “partícula de Deus” (caso você ainda não tenha feito essa associação).
Obs.: esta partícula também é explorada no livro (e filme) “Anjos e demônios”, de Dan Brown, caso você queira conferir mais.
Energia nuclear e radioatividade
Chegamos, por fim, ao local mais polêmico da série, que, no momento do apocalipse, é a sua “causa”: a usina nuclear de Winden.
A energia nuclear é produzida a partir da reação nuclear, ou seja, o processo de divisão e transformação do núcleo de certos elementos, especialmente o urânio. Diferentemente da partícula de Deus, aqui, a atividade da massa é que gera energia, e não o contrário.
Assim como nas hidrelétricas ou nas placas solares, o fundamento principal desta reação é a geração de energia elétrica. Mas, para isso, ela deve ser cuidadosamente manipulada e descartada para que não haja contato com o ambiente e com os seres humanos, o que se dá em usinas e reatores como os da série.
Qualquer descuido pode ser suficiente para causar uma “reação em cadeia”, momento em que se perde o controle da transformação dos núcleos e ela passa a ocorrer e crescer exponencialmente. É o que gera a explosão das bombas atômica e o próprio apocalipse da série.
Fora esta linha tão tênue, outro lado negativo da energia nuclear é a toxicidade. Durante a reação nuclear, as partículas emitem radiação nociva ao que e a quem for posto em contato com ela.
A cientista Marie Curie, descobridora do fenômeno de radiação, por exemplo, sofreu e morreu devido ao manuseio de substâncias tóxicas no decorrer de sua vida. Na série, nem precisamos dizer que personagem do futuro é o maior exemplo disso, né?
Obs. n.º 2: uma produção relacionada bacana é Chernobyl, da HBO. A série (ficcional) de 5 episódios narra o acidente nuclear mais desastroso da história e seus efeitos (reais) na região e, principalmente, nos seus habitantes.
E então, o nó na cabeça aumentou ou diminuiu? Reparou algum outro conceito na série? Anote-o para levar ao seu professor e auxiliar nos seus estudos!
E lembre-se sempre: apesar de baseada em conceitos teóricos, a série é uma obra de ficção. É importante saber diferenciar uma coisa da outra, não só em Dark, como em qualquer filme ou série a que você for assistir. Já se viagens no tempo e multiversos são realmente possíveis, aí é assunto para as aulas de Física...